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Sobre o Quintal do Mundo

No último sábado (01/07) tive a oportunidade de participar do 1º Quintal do Mundo, evento promovido pela Can Sustentável, um escritório de bioarquitetura e biotecnologia, que tem sede no LACAN, um laboratório de permacultura e bioconstrução, localizado em plena capital do agronegócio. Essa indagação provocativa serve tanto para expressar a oposição que a permacultura traz aos modelos de exploração hegemônicos do território, quanto para ressaltar a importância de uma iniciativa como essa na região do país onde prosperam as práticas anti-ecológicas de monocultura, desmatamento e envenenamento dos ecossistemas. Aqui, onde o ´AGRO É POP´.

O evento teve o propósito de introduzir a população de Cuiabá e região os princípios da Permacultura, um sistema de pensamento e design sustentável, que desde sua criação nos anos 70, vem propondo novas formas de olhar nossa ação perante o ambiente o qual habitamos. Baseada em três princípios-chave – cuidar da terra, cuidar das pessoas, partilha justa – as práticas permaculturais agregam uma série de ferramentas que se constituem a partir da realidade local, tornando-a um sistema de pensamento aplicável em qualquer região e cultura. Por seu caráter aberto e dinâmico, também pode ser interpretada como uma filosofia, ou visão de mundo, em que nós observamos o mundo natural, para absorver e reproduzir as complexa tecnologias que o regem.

Teorias a parte, o que pôde se ver mesmo neste sábado ensolarado, foram muitas trocas de experiência, pés no barro, exposição de produtos artesanais e ecológicos, arte e até um fusca sebo cheio de surpresas nostálgicas. A partir da abertura do evento com a palestra do experiente permacultor Antonio Zyek, que introduziu o tema e mostrou algumas das suas possibilidades de aplicação prática na construção de ambientes sustentáveis, as atividades começaram a brotar por todos os cantos daquele quintal. As crianças compareceram em peso, explorando por entre as árvores tortuosas do cerrado, pisando o barro para montar os tijolos de adobe nas formas de madeira, enquanto os adultos experimentavam a técnica que hiperadobe, enchendo os baldes e sacos de ráfia.  Por toda a tarde, pessoas curiosas ou apertadas subiam e desciam a escada em espiral do banheiro seco – esse uma celebridade a parte, por mais parecer uma casa na árvore, daquelas que seu avô construiria para você brincar na infância –; incrível como um lugar que costuma ser discreto pode se transformar em um ambiente criativo e ecológico.

Aliás, esses são dois adjetivos que costumam acompanhar os espaços permaculturais. Expostos pelos caminhos do quintal, encontrava-se artigos de moda da Luxo Sem Lixo, marca que é fruto de empreendedorismo social na cidade; os móveis da Cuiabá Pallets Planejados; os doces do Sr. Bolo; os cadernos costurados a mão que eu mesmo faço; e o belo projeto Rua Antiga – Sebo Itinerante, que carrega a bordo de um fusca vermelho um universo de antiguidades. Nas andanças entre as atividades, a medida que o sol ia caindo, o espaço ia ganhando novas cores com a grafitagem do artista Rafael Jonnier no painel de pau-a-pique, trazendo o live painting naquela tarde. Com a penumbra que anunciava a chegada da noite, o espaço começou a ganhar outros tons, com os varais de luzes que se penduravam por entre as árvores. O cheiro das pizzas preparadas no forno à lenha da cozinha aberta do laboratório, convidava ao descanso e fruição, depois de uma tarde cheia experiências e aprendizados. E para acompanhar o rodízio de pizza que se estendeu até o fim da noite, a apresentação musical em voz e violão de Larissa Padilha somou perfeitamente.

 

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Há algum tempo atrás, o autor italiano Ítalo Calvino escrevia um livro chamado As cidades invisíveis, onde descrevia mundos impossíveis, construídos por sociedades peculiares, cada qual com suas estranheza virtuosas. Ele que sempre prezou pela importância em manter a imaginação ativa para compreender e (re)criar a realidade, nos mostrou que a construção de utopias podem e devem fazer parte do nosso repertório. O que pude ver por detrás das lentes enquanto fotografava o 1º Quintal do Mundo, foi um momento de descobertas para muita gente, de educação para sustentabilidade para crianças e adultos, uma desconstrução de automatismos estéticos e habituais, que revelam novas vivências e convivências no planeta. Por certo que esse é maior desafio e também o maior tesouro que a permacultura carrega em seu íntimo, a transformação da forma de pensar e agir no mundo. Em meio ao deserto de monoculturas de soja, milho e pecuária, o quintal do LACAN se tornou, aos que estavam ali presentes, um oásis de possibilidades para um mundo mais sustentável, que seja comprometido com princípios ecológicos e que tragam uma existência harmônica e permanente de nós com a natureza.

 

Por Mateus Barros

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